Venda de votos: eleitores filmam urnas com óculos-espiões, afirma reportagem

As denúncias de compra de votos têm ganhado cada vez mais destaque, especialmente com o uso de tecnologias clandestinas para garantir que eleitores cumpram os acordos ilícitos feitos com candidatos.

No último domingo, o programa Fantástico, da TV Globo, revelou um esquema que envolve eleitores usando óculos-espiões para filmar seu voto nas urnas eletrônicas, a fim de comprovar que votaram no candidato que pagou pelo seu voto.

Esse caso, envolvendo eleições municipais no Pará e Maranhão, gerou indignação e novas investigações sobre a corrupção eleitoral no Brasil.

Óculos-Espiões no Pará

Em Ourilândia do Norte, no Pará, eleitores estavam utilizando óculos-espiões para gravar seus votos e provar que votaram em um candidato específico. Esses óculos, que à primeira vista pareciam comuns, tinham câmeras embutidas em suas hastes.

A intenção era que os eleitores filmassem o momento em que digitavam o número do candidato Irmão Edivaldo (MDB), um vereador que tentava a reeleição.

  • Mesária desconfiada: A descoberta começou quando uma mesária notou que vários eleitores estavam entrando na seção eleitoral com os mesmos óculos de armação grossa. Ao desconfiar da situação, ela alertou as autoridades.
  • Esquema de compra de votos: Uma eleitora revelou à Justiça Eleitoral que recebeu R$ 200 para votar em Edivaldo. A condição imposta para o pagamento era que ela comprovasse o voto filmando o momento em que digitava o número do candidato na urna eletrônica.
  • Prisão e soltura do vereador: Irmão Edivaldo foi preso em flagrante, mas foi solto logo após o pagamento de fiança. Ele chegou a usar uma sessão da Câmara de Vereadores para se defender, negando veementemente as acusações, mas o escândalo já estava instalado.

Compra de votos por prefeito no Maranhão

Além do Pará, outra grave denúncia de compra de votos ocorreu em Nova Olinda do Maranhão, onde Ary Menezes (PP) foi acusado de ter usado diferentes formas de suborno para garantir sua eleição como prefeito, vencendo por apenas dois votos de diferença.

Ary Menezes foi eleito prefeito por uma margem extremamente apertada, derrotando a candidata Thaynara Amorim (PL) por apenas dois votos. Esse fato, somado às acusações de compra de votos, levantou suspeitas ainda maiores sobre a legitimidade do pleito.

Segundo as denúncias, a equipe de Menezes distribuiu materiais de construção, como telhas e sacos de cimento, para comprar votos. Um eleitor, Danilo Santos, relatou ao Fantástico que recebeu 1.500 telhas e outros materiais, com a promessa de receber mais no dia seguinte.

Entretanto, como não votou em Menezes após não receber todos os itens prometidos, uma equipe da campanha foi à sua casa para recolher o material entregue.

Outro relato chocante foi o de uma eleitora que afirmou ter sido ameaçada de morte, junto com sua família, por não votar no candidato e em uma vereadora apoiada por ele. As ameaças vieram após o marido dela ter aceitado dinheiro da campanha, mas o casal decidiu não seguir o acordo e apoiou outros candidatos.

Investigação do Ministério Público

As denúncias apresentadas pelo Fantástico levaram o Ministério Público do Maranhão (MPMA) a iniciar uma investigação detalhada sobre a compra de votos. A prática não apenas viola a legislação eleitoral, mas também compromete a integridade da democracia.

Em um contexto de eleições acirradas, como o ocorrido em Nova Olinda, cada voto faz a diferença, e qualquer indício de fraude pode alterar o resultado.

  • Resposta de Ary Menezes: O prefeito eleito de Nova Olinda do Maranhão emitiu uma nota oficial negando todas as acusações. Ele afirmou que a compra de votos é uma prática que fere a democracia e se colocou à disposição para esclarecimentos.
  • Postagem irônica: Apesar das graves denúncias, Ary Menezes fez postagens irônicas em suas redes sociais, debochando da repercussão da reportagem e chamando a si mesmo de “o prefeito mais famoso do Brasil”.

As revelações do Fantástico sobre o uso de óculos-espiões e a compra de votos nas eleições municipais de 2024 expõem um problema grave e recorrente na política brasileira. Embora alguns dos envolvidos tenham sido presos e estejam sendo investigados, o desafio de acabar com a corrupção eleitoral continua.

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