Maguila: golpes repetitivos na cabeça foram a verdadeira causa da morte do boxeador

José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, foi um dos maiores nomes do boxe brasileiro. Com uma trajetória que começou no início dos anos 1980, o peso-pesado se destacou pela sua determinação, ganhando rapidamente a admiração do público brasileiro.

Apelidado de “Maguila” por sua semelhança com um personagem de desenho animado, ele foi apresentado ao boxe por Luciano do Valle, narrador e empresário, que acreditou em seu potencial e o colocou sob a orientação de Angelo Dundee, treinador de lendas como Muhammad Ali e George Foreman.

Com 85 lutas, 77 vitórias, e títulos expressivos como Campeão Brasileiro e pentacampeão continental, Maguila marcou seu nome na história do esporte, mas pagou um alto preço.

Encefalopatia Traumática Crônica

Desde 2013, Maguila lutava contra uma doença que destrói lentamente a mente e o corpo, a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), conhecida também como demência pugilística ou Síndrome Boxer.

Essa condição neurodegenerativa é caracterizada por sintomas como perda de memória, mudanças de personalidade e coordenação motora, levando a um quadro parkinsoniano e até a demência. A ETC é causada pela repetição de traumas na cabeça, algo comum entre pugilistas, jogadores de futebol americano e outros atletas de esportes de contato.

A ETC foi identificada pela primeira vez em 1928, pelo médico Harrison Martland, que estudou os sintomas em boxeadores e descreveu os sinais de demência pugilística. Estudos mais recentes mostram que a doença não resulta de um único golpe, mas do acúmulo repetitivo de impactos que, mesmo sem levar ao nocaute, abalam o cérebro e causam lesões.

Os primeiros sinais e o avanço da doença

No início, os sintomas da ETC podem ser discretos, mas perturbadores, como tremores leves, dificuldade de coordenação e mudanças de humor. Esses sintomas progridem para comportamentos agressivos, depressão, euforia e impulsividade, gerando grande sofrimento para o paciente e sua família.

Nos estágios mais avançados, a condição causa graves alterações psiquiátricas e motoras, que se assemelham ao Parkinson, e a pessoa pode perder completamente o controle sobre suas ações e emoções. Em Maguila, esses sintomas foram devastadores, tornando seu final de vida um período de extrema fragilidade.

A trajetória de Maguila no boxe

Durante as décadas de 1980 e 1990, Maguila enfrentou alguns dos maiores pugilistas do mundo, como Evander Holyfield e George Foreman, acumulando tanto vitórias quanto derrotas em lutas intensas e emocionantes.

Em 1995, ele alcançou seu maior feito ao conquistar o título mundial da Federação Mundial de Boxe (FMB).

A luta contra a ETC e a necessidade de acompanhamento para atletas

Maguila passou mais de uma década lidando com os sintomas da ETC, e sua condição trouxe à tona a importância do acompanhamento neurológico para esportistas que sofrem impactos repetitivos.

De acordo com especialistas, como o Dr. Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, é fundamental que atletas que praticam esportes de contato tenham acompanhamento contínuo para identificar sinais precoces e agir preventivamente contra a doença. Infelizmente, para Maguila, essa assistência veio tarde demais.

A triste história de Maguila ressalta a importância de valorizar a saúde dos atletas. Enfrentar a ETC é uma batalha diária e, mesmo com sua doença, Maguila permanece uma figura importante na luta por conscientização sobre os impactos do esporte de contato na saúde mental e física.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.