Há duas décadas, o mercado bancário brasileiro passou por uma transformação significativa com o surgimento da XP Investimentos. A corretora se destacou ao oferecer produtos financeiros, rompendo com o modelo tradicional dos grandes bancos, que só disponibilizavam aplicações próprias. Esse movimento marcou o início de uma nova era para o setor financeiro no Brasil.
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O segundo grande golpe no status quo veio em 2013, quando o Nubank, uma fintech inovadora, entrou em cena com a proposta de ser um banco completamente digital, atraindo principalmente a população de renda mais baixa, historicamente negligenciada pelas grandes instituições financeiras.
A ascensão de fintechs como a XP e o Nubank desafiou os grandes bancos, forçando-os a reavaliar suas estratégias. Entre eles, o Itaú se destacou por sua resposta rápida e proativa.
Em 2017, o banco comprou 49% da XP, uma participação que foi vendida no final de 2022. Além disso, o Itaú adquiriu uma participação na corretora Avenue e agora está prestes a lançar um “superaplicativo” no segundo semestre de 2024. Este novo app promete ser uma ferramenta revolucionária, integrando 15 milhões de clientes, correntistas e não correntistas, em uma única plataforma.
Superapp
O “superapp” do Itaú será acessível a todos os clientes, independentemente de terem conta corrente ou apenas cartões de crédito. Essa mudança permite que todos os usuários tenham acesso a uma interface personalizada com inteligência artificial, novos recursos em cartões, segurança e limites de crédito, trazendo mais agilidade e simplicidade às operações diárias.
A tendência de criar superapps, impulsionada pelas fintechs, finalmente encontrou seu espaço entre os bancos tradicionais, com o Itaú liderando esse movimento.
Larissa Quaresma, analista da Empiricus Investimentos, destaca que essa iniciativa do Itaú alinha-se às práticas das fintechs, onde o cliente é tratado de forma uniforme, independentemente do produto financeiro adquirido.
Eduardo Menicucci, professor da Fundação Dom Cabral, vê o superapp como uma tentativa do Itaú de recuperar o espaço perdido para as fintechs nos últimos anos. Apesar de chegar com atraso, o superapp coloca o Itaú à frente dos concorrentes tradicionais como Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Diferencial do banco
A jogada do Itaú é considerada inteligente por muitos analistas, pois visa reduzir a perda de base de clientes e, consequentemente, perdas financeiras futuras. Ulysses Reis, professor de MBAs da FGV, ressalta que o desenvolvimento do superapp é um feito para um banco tradicional como o Itaú, que nasceu analógico e precisou se reinventar ao longo dos anos.
O investimento contínuo em tecnologia, desde a criação da Itautec nos anos 1980, colocou o banco em uma posição vantajosa para competir com as fintechs.
O diferencial do superapp do Itaú em relação a outras plataformas, como a do Banco Inter, é a grande oferta de produtos. O Itaú pretende se posicionar como um consultor financeiro, oferecendo produtos e serviços adaptados às necessidades individuais dos clientes.
Além disso, ao permitir o acesso de não-correntistas, o Itaú abre uma porta para atrair as classes C e D, tradicionalmente alvos dos bancos digitais e do Bradesco.
Open Finance
Esse sistema financeiro aberto permite que os clientes compartilhem dados financeiros entre diferentes bancos, facilitando a oferta de produtos e serviços mais adequados às suas necessidades. Para o Itaú, a integração das diversas plataformas em um único aplicativo permitirá inovações baseadas no uso massivo de dados.
Sylvie Ane Massaini, professora de finanças na ESPM, ressalta que o superapp do Itaú pode melhorar a experiência do usuário através da inteligência artificial e do aprendizado de máquina, sugerindo produtos e investimentos baseados nos padrões de consumo dos clientes.
O acesso a uma base de dados é visto como o “tesouro do século”, proporcionando ao Itaú um nível de informação sem precedentes sobre seus clientes, sendo ou não correntistas.