A desigualdade de renda no Brasil é uma problemática que vai além do que as pesquisas por amostra de domicílios conseguem captar. Este fato ficou evidente em um estudo recente do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o FGV Social.
A pesquisa combinou os dados do Imposto de Renda da Pessoa Física de 2020 aos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este estudo aprofundado trouxe uma visão mais clara e impactante sobre a realidade da desigualdade de renda no país.
De acordo com os pesquisadores, a inclusão dos dados do Imposto de Renda no cálculo da desigualdade piorou substancialmente a situação do Brasil no contexto internacional. Essa abordagem revelou um retrato ainda mais crítico da desigualdade, já que diferentemente da Pnad, a declaração do imposto de renda é o que de fato revela os fluxos de renda, patrimônio e acúmulo de riqueza das pessoas físicas.
A ampliação da desigualdade de renda no Brasil
Com essa abordagem ampla e realista, os pesquisadores constataram que a desigualdade de renda no Brasil, já conhecida por ser alta, é ainda pior. O índice de Gini, que representa a desigualdade de renda de um país, ficou em 0,7 no primeiro ano da pandemia. Vale lembrar que quanto mais próximo do zero, menos desigual é o país ou região. Nesse cenário, cada 0,03 pontos equivale a uma grande mudança na desigualdade.
Desigualdade de renda e mobilidade social: como isso impacta a população?
A conclusão do estudo vai além dos números. Ela mostra que a desigualdade afeta diretamente a mobilidade social da população. O Brasil, por exemplo, ocupa a segunda pior posição em uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre mobilidade social entre 30 países membros. A pesquisa mede o quanto o nível de escolaridade e renda dos pais determina o futuro dos filhos. No caso brasileiro, o filho de pais mais ricos terá sua renda 70% maior que o filho de família mais pobre.
Esse cenário de desigualdade de renda acarreta em um ciclo vicioso difícil de ser quebrado. Para se ter uma ideia do abismo social, o estudo estima que um brasileiro nascido entre os 10% mais pobres levaria nove gerações, o equivalente a 180 anos, para alcançar a renda média do país. Esse resultado é alarmante e demonstra a urgência na implementação de políticas públicas de combate à desigualdade e promoção da mobilidade social.
Quais são os desafios a serem enfrentados?
Combater a desigualdade de renda no Brasil envolve enfrentar uma série de desafios intrincados e complexos. A estrutura produtiva do país precisa gerar empregos de qualidade, assim como é necessária a implementação de uma autêntica reforma tributária que favoreça uma distribuição de renda mais igualitária. Além disso, políticas públicas voltadas para a educação são primordiais para que as gerações futuras tenham melhores oportunidades e assim possam quebrar o ciclo de desigualdade.
Em suma, a desigualdade de renda é uma questão urgente e complexa que requer ações e políticas públicas assertivas. É fundamental que as diversas esferas do poder público estejam alinhadas nesse propósito, garantindo assim um futuro mais igualitário e justo para todas as camadas da população brasileira.