A maior reserva de petróleo do mundo foi descoberta por país que não pode explorá-la
No último mês, uma descoberta chamou a atenção de que a Rússia encontrou reservas de petróleo na Antártida, especificamente no Mar de Weddell.
Esta região, rica em recursos naturais, revelou cerca de 500 bilhões de barris de petróleo, uma quantidade quase duas vezes maior do que as reservas comprovadas pela Arábia Saudita em 2022, conforme dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Tratado da Antártida de 1959
A descoberta, feita por navios de pesquisa russos, foi reportada pela revista “Forbes” com base em informações fornecidas pelo Comitê de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns (EAC) do Reino Unido. No entanto, a exploração dessa riqueza natural enfrenta um obstáculo com o Tratado da Antártida de 1959.
Esse tratado, estabelecido para garantir que a Antártida seja utilizada exclusivamente para fins pacíficos e científicos, proíbe qualquer reivindicação de soberania ou exploração de recursos naturais. O continente, objeto de interesse de sete países requerentes históricos – Argentina, Austrália, Chile, França, Nova Zelândia, Noruega e Reino Unido – está, portanto, protegido contra atividades extrativas.
Segundo Jefferson Simões, vice-presidente do Comité Científico de Investigação Antártida (SCAR), as reivindicações territoriais estão suspensas desde a década de 1950, criando um status quo que evita conflitos, mas mantém a vigilância sobre o território.
A Convenção de Proteção Ambiental da Antártida de 1991 reforça esta proteção, especificamente proibindo a exploração e produção de petróleo para preservar o ambiente sensível do continente.
Simões explica que a Antártida abriga ecossistemas únicos, adaptados a condições extremas, que seriam severamente impactados por qualquer atividade de extração de petróleo. Em caso de vazamento, o óleo ficaria preso entre a superfície congelada e o mar, causando danos irreparáveis à cadeia alimentar local.
Alerta Geopolítico
Luis Augusto Rutledge, analista de geopolítica e energia do Centro de Estudos das Relações Internacionais (Ceres), ressalta que a exploração russa pode ser vista como uma violação do Tratado da Antártida, uma vez que envolve levantamentos de petróleo e gás em áreas previamente inexploradas.
Rutledge acredita que a tensão geopolítica resultante pode levar a uma revisão do tratado, promovendo um debate internacional sobre a proteção e exploração dos recursos antárticos. A preocupação é que a deterioração das relações entre a Rússia e o Ocidente possa transformar a Antártida em um novo palco de competição, em vez de cooperação para a conservação ambiental.
Rutledge alerta que o ambiente político na Antártida é o mais desafiador desde o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. A invasão da Ucrânia pela Rússia demonstrou a disposição do país em desafiar decisões de organismos e cortes internacionais, aumentando a suspeita sobre as verdadeiras intenções russas na Antártida.
Enquanto as autoridades russas alegam que suas atividades são puramente científicas, muitos veem nisso uma fachada para a busca de novas fontes fósseis de petróleo e gás.
Altos custos envolvidos para Rússia
Apesar da descoberta e das tensões, Simões argumenta que a exploração de petróleo na Antártida não será viável economicamente para a Rússia nos próximos anos.
Ele destaca os altos custos logísticos e ambientais envolvidos, além da distância das fontes de recurso. Simões acredita que outras áreas de exploração de petróleo e gás são mais atrativas e economicamente viáveis para a Rússia.
Governo russo ainda não se pronunciou oficialmente sobre os relatórios
No entanto, em janeiro, durante o lançamento de um novo complexo na base russa Vostok, o presidente Vladimir Putin mencionou que as perfurações no gelo começaram nos anos 1970, mas foram paralisadas por uma década para garantir que a Rússia cumprisse os requisitos de proteção ambiental.
A Antártida, com seus 14 milhões de quilômetros quadrados, é a região mais fria, alta, seca, ventosa e gelada do planeta, contendo 90% do volume de gelo do mundo e cerca de 80% da água doce global, representando aproximadamente 28 milhões de quilômetros cúbicos.
Segundo Simões, o volume de gelo antártico é fundamental para a circulação atmosférica e oceânica global, desempenhando um papel crucial na regulação do clima, semelhante à importância da Amazônia. A proteção deste continente é, portanto, não apenas uma questão ambiental, mas também de estabilidade climática global.